Editorial

Um em cada quatro gaúchos na pobreza

Ainda que persista em parcela da sociedade certo esforço em negar a realidade para o drama social enfrentado no País, cada novo estudo divulgado sobre a pobreza brasileira confirma realidade preocupante. O mais recente foi publicado pela PUCRS, levando em conta o período de 2012 a 2021 e usando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE. Os resultados indicam que, no último ano de abrangência dessa análise, 30,4% dos cidadãos viviam em pobreza social, conceito que combina a pobreza absoluta ou extrema e a relativa. O índice representa o maior já registrado em todo esse período de dez anos, com aceleração de 5,3 pontos percentuais em relação ao ano anterior, 2020. Para fugir do número frio destes pontos percentuais, significa dizer que, de um ano para outro, mais 11,7 milhões passaram a viver com grandes dificuldades.

No Rio Grande do Sul, estado cujo povo e governantes costumam carregar no discurso o orgulho de ser um dos mais desenvolvidos do País, a realidade não é muito distante. São 24,5% vivendo nessa condição de pobreza, praticamente um de cada quatro gaúchos. Traçando paralelo com 2020, em um ano foram 2,8 milhões empurrados para tal situação.

Ao olhar para os dados da década analisada pela PUCRS, o percentual de pessoas vivendo com praticamente nada no Rio Grande do Sul só não é maior que o de 2012, ano em que 26,3% se encaixavam nesse quadro lamentável. Ou seja, ainda que se possa considerar verdade que no território gaúcho há melhores índices econômicos ou educacionais que em outras regiões do Brasil, inegável é que isso de pouco ou nada tem servido para melhorar as condições de quem mais precisa. Tanto que, como mostram os dados da pesquisa citada, o índice de pobreza social no RS vinha se mantendo praticamente estável desde 2013, oscilando em torno de 21% e 23%. Sempre existindo, portanto, mais de um quinto na miséria ou dificuldades.

Por óbvio, estes picos atingidos em 2021 têm muita relação com a pandemia e seus efeitos sobre a economia diante da necessidade de períodos de isolamento para proteção da vida. Contudo, também ressaltam as falhas do poder público ao lidar com o combate à pobreza na última década. Não fosse assim, seria possível notar avanços de 2012 até 2020, quando não havia coronavírus como desculpa para dados tão vergonhosos. Porém, assim como no Estado, também em nível nacional os índices permaneceram estáveis (oscilando em torno de 26% e 27% desde 2013).

Desde ontem, o Brasil e o RS contam com novos parlamentos, dando verdadeiramente início a um novo ciclo político. Toda a sociedade - notadamente a crescente fatia mais pobre - espera que seja uma etapa de real enfrentamento à miséria. Esta é a pauta prioritária, acima de qualquer discordância ou picuinha política.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

A ordem mundial em transformação

Próximo

Quem só olha a grama do vizinho, deixa morrer o próprio jardim

Deixe seu comentário